Renato Moreira de Abrantes
Sacerdote e religioso. Exerceu o ministério sacerdotal entre 2004 e 2010,
quando recebeu a dispensa do Santo Padre, o Papa Francisco.
Decidi, com a minha Kercya, não mais deixar os celulares no quarto de dormir. Pelo sim, pelo não, vai que a energia elétrica e as ondas de rádio atrapalham mesmo o sono e a saúde. Os telefones, à noite, serão recarregados em outro cômodo. Porém, chegamos ao mesmo entendimento de que, para acordarmos pela manhã, precisaremos de um despertador. Procurei o dito cujo e o adquiri. Faremos o teste amanhã mesmo.
Esta “epopeia” me fez volta a lembrança para os meus tempos de seminário, no Instituto Jesus Missionário dos Pobres, em Cajazeiras/PB, e a formação que recebi do Mons. Gervásio Fernandes de Queiroga (de 1995 a 2010), baseada na liberdade e na responsabilidade para consigo e para com os outros.
A cada dois meses, o Pe. Gervásio fazia uma reunião de avaliação do período anterior, solicitando a todos que avaliassem os ocupantes dos três principais cargos da comunida-de, exercidos por nós mesmos, seminaristas: o coordenador (sempre alguém do seminário maior – filosofia), o campista (ou sineteiro) e o ecônomo. Mesmo os que tivessem feito uma boa “gestão” não estavam livres de críticas, feitas, senão por nós (às vezes imaturamente impiedosos com o colega), pelo Pe. Gervásio, para que, segundo sua sabedoria formativa, ninguém ficasse com o ego elevado.
Finda a avaliação, novos colegas eram indicados. O coordenador recebia as chaves da “casa” (cuja posse estava, além dele, apenas com o Pe. Gervásio) e, com elas, a incumbência de, principalmente na ausência do fundador, fazer com que as normas do seminário fossem observadas, sobretudo as saídas.
Ao ecônomo, além dos valores semanais para a “feira”, se entregava a responsabilidade pela despensa dos alimentos e pelo gerenciamento da cozinha, principalmente a elaboração do cardápio e a disponibilização das quantidades exatas de mantimento para (nós) cozinharmos. O campista, função que ninguém exercia de bom grado, recebia, além da “campa”, o despertador, para que não corresse o risco de “passar da hora” (primeiro toque às 05h00, para a missa diária) e, por conseguinte, não despertar os outros.
Parecia um sistema rígido, mas havia “ciência” nisso tudo: aprendíamos a ter responsabilidade, desenvolvíamos algo que, hoje, poucos sabem até o significado, que é a hombridade (ou seja, aprendíamos a ser homens). Os da minha época, mesmo os que saíram do seminário, hoje são pessoas que se destacam em suas áreas de atuação, justamente porque aprenderam a gerir uma comunidade, a cuidar da sua manutenção e a observar pontualmente os horários.
Infelizmente, nos dias de hoje, é lamentável que haja seminários e casas de formação cujas únicas preocupações sejam o manuseio do turíbulo, a quantidade de velas do altar, o nó no cíngulo ou a “renda” mais bonita para a sobrepeliz. Não falo nem no amor aos estudos, cada vez mais em declínio nos seminaristas de hoje. Épocas houve, em que se varavam noites estudando, e não à tela de um smartphone, sabe-se Deus olhando o quê.
Que pena que seja assim. Os desafios, por exemplo, de uma paróquia são imensamente maiores que esses e exigem padres que tenham sido formados para serem, antes de tudo, homens responsáveis, e não eternos meninos “chorões”.
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