A polarização é o combustível para o extremismo, que reduz a cinzas os pilares sociais, torna uma pessoa indiferente à outra e, criminosamente, intransigente ao que ela pensa e como ela age.
Politicamente, os mormaços do extremismo se fazem sentir em permanentes ameaças à democracia. Relações foram aniquiladas; famílias, destruídas; amizades, rompidas. Tudo a pretexto de ser ou estar à direita ou à esquerda. Mas, escandalosamente, na Igreja Católica, o modelo se repete.
Pastores contra pastores, pastores contra ovelhas, ovelhas contra pastores, ovelhas contra ovelhas, seja em torno de Francisco ou em oposição a ele, formam legiões de extremistas, a quem não causam nenhuma dor dividir a Igreja.
A “gota d’água” parece ter sido o “Fiducia Supplicans”, do Dicastério para a Doutrina da Fé, que estabeleceu a possibilidade da bênção a casais formados por pessoas do mesmo sexo, sem qualquer ritualização e imitação do matrimônio. Isso até rendeu ao papa a acusação de ser “servo de Satanás” e “blasfemo”. Ora, um pai não abençoar seu filho ou filha, mesmo que seja homossexual, ou “junto”? A bênção do velho pai pode até não implicar em aceitação da situação, mas importa, sim, amor e fortalecimento desse amor. Se o pai pode, Deus, muito mais.
Percebe-se que o problema não é a bênção. O problema, na verdade, é Francisco. Apegados a uma suposta defesa da “tradição” e da “revelação divina”, os extremistas agem como “terroristas da fé”, quebrando a unidade da Igreja e gerando, nela, os mesmos efeitos da polarização mundana: a ameaça aos pilares eclesiais.
Com uma diferença: as portas do inferno e a fumaça de Satanás – o terrorista e extremista mor – não prevalecerão sobre a Igreja de Cristo, que é a mesma Igreja de Oscar Romero, de Francisco, de João Paulo, de Bento, de Dorothy Stang, de Hélder Câmara, de Ezequiel Ramin, de Júlio Lancellotti e tantos outros que optaram pelo que há de essencial no cristianismo, o Evangelho e o serviço aos homens, sobretudo os mais pobres.
Renato Moreira de Abrantes.
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